Desporto e Sociedade: uma nova relação <br>plena de interrogações
Os poucos estudos sobre o número de praticantes regulares de actividade físico-desportivas em Portugal são contraditórios. Mas aceitamos, para já, os mais optimistas.
Se ele é verdadeiro, mais de 2 milhões de portugueses dizem praticar desporto.
Trata-se de um número impressionante, absolutamente imprevisível há 20 anos. Como imprevisíveis eram as transformações que, por todo o mundo, se verificaram no desporto, em especial durante o período que vai de 1985 a 2000.
Em Portugal, estas transformações ainda não se fizeram sentir com a intensidade com que surgiram, por exemplo, em Espanha e em França. O nosso habitual atraso existe, apesar de vários sintomas de significado desigual mostrarem que o Desporto Português está a passar por algumas mudanças com significado diverso.
Os grandes clubes, cada vez mais estruturados como máquinas de produção do espectáculo desportivo, sofreram profundas alterações para se adaptarem à perspectiva empresarial em que funcionam há vários anos. O comprometimento, cada vez mais intenso, do Poder Central no controlo regulamentar do desporto, cria sérias dificuldades à estrutura federada, simultaneamente submetida a uma tutela cada vez mais forte e às dificuldades criadas pela crise. A nova posição das Autarquias Locais, naturalmente assumindo um papel que, há muito, deveria ter sido o seu, vêem a tarefa dificultada pela endémica falta de meios. A crise do associativismo, a espiral fantástica do dinheiro nos espectáculos desportivos, os novos equipamentos destinados à prática, a agudização da crise da educação física e do desporto escolar, o aparecimento de novos tipos de actividades, as transformações sofridas pelas antigas, o acesso de novos grupos etários e sociais, a intervenção de novas tecnologias, e a estruturação do complexo TV/Espectáculo desportivo/ “Sponsors”, constituem elementos de uma vasta lista de transformações que fazem do desporto um fenómeno central da sociedade actual.
Tudo indica que as transformações ainda não terminaram, e que muita coisa nova e significativa vai ocorrer. Por um lado, porque muitas daquelas transformações ainda estão em curso e, portanto, não se consolidaram, por outro lado, porque a situação de crise social , económica e cultural vivida na sociedade, e o interesse crescente pela prática desportiva, vão, certamente influenciar o que se irá passar.
Futuro incerto
A evolução actual da sociedade, gerando uma crise sem precedentes, acelerou o processo de desigualdade, a exclusão social, a «nova pobreza» e a «grande pobreza», e agravou outros, como os da delinquência, droga e outras violências sociais. Tudo isto num momento em que as relações do trabalho com o tempo livre se tornam cada vez menos hegemónicas, em que o número de indivíduos inseridos no mundo da produção diminui, a situação no trabalho se torna cada vez mais precária, aumentando o desemprego, e se produzem profundas mutações no mundo rural .
Nesta situação como irá evoluir o associativismo? A crise acentuar-se-á ou, pelo contrário a sua função passará a ser reconhecida plenamente? O pequeno clube de bairro e de aldeia está inevitavelmente condenado a desaparecer, fazendo por isso, desaparecer um dos últimos locais de convivialidade, de expressão da cultura local e da solidariedade ?
Que se irá passar como «carola», o elemento voluntário sobre o qual ainda hoje repousa o nosso desporto organizado: irá ser substituído pelo profissional, tal como sucedeu no campo da prática com a invasão do profissionalismo, ou receberá os meios indispensáveis para poder continuar a desempenhar a sua acção?
A própria estrutura federada vai continuar a manter-se alheada do grande número de «não organizados», preocupada essencialmente com a prática hiper competitiva de uma pequena percentagem, ou vai sofrer profundas transformações? E estas caminharão no sentido da profissionalização dos meios humanos, na utilização das modernas técnicas de «venda» dos seus «produtos»?
A lógica do mercado, a que ainda escapa uma vasta área da prática desportiva, vai dominar tudo, ou será possível estabelecer limites ajustados entre as actividades espectaculares, e o desenvolvimento das actividades ao serviço da população? Encontrará a iniciativa popular, hoje na origem e na manutenção da vida de cerca de 90% dos clubes existentes, meios e forças suficientes para continuar a desempenhar essa função?
A lista de hipóteses alternativas continuaria ainda por muito mais espaço. Mas as enunciadas já chegam para se compreender a nova realidade que o desporto está a assumir.
Se ele é verdadeiro, mais de 2 milhões de portugueses dizem praticar desporto.
Trata-se de um número impressionante, absolutamente imprevisível há 20 anos. Como imprevisíveis eram as transformações que, por todo o mundo, se verificaram no desporto, em especial durante o período que vai de 1985 a 2000.
Em Portugal, estas transformações ainda não se fizeram sentir com a intensidade com que surgiram, por exemplo, em Espanha e em França. O nosso habitual atraso existe, apesar de vários sintomas de significado desigual mostrarem que o Desporto Português está a passar por algumas mudanças com significado diverso.
Os grandes clubes, cada vez mais estruturados como máquinas de produção do espectáculo desportivo, sofreram profundas alterações para se adaptarem à perspectiva empresarial em que funcionam há vários anos. O comprometimento, cada vez mais intenso, do Poder Central no controlo regulamentar do desporto, cria sérias dificuldades à estrutura federada, simultaneamente submetida a uma tutela cada vez mais forte e às dificuldades criadas pela crise. A nova posição das Autarquias Locais, naturalmente assumindo um papel que, há muito, deveria ter sido o seu, vêem a tarefa dificultada pela endémica falta de meios. A crise do associativismo, a espiral fantástica do dinheiro nos espectáculos desportivos, os novos equipamentos destinados à prática, a agudização da crise da educação física e do desporto escolar, o aparecimento de novos tipos de actividades, as transformações sofridas pelas antigas, o acesso de novos grupos etários e sociais, a intervenção de novas tecnologias, e a estruturação do complexo TV/Espectáculo desportivo/ “Sponsors”, constituem elementos de uma vasta lista de transformações que fazem do desporto um fenómeno central da sociedade actual.
Tudo indica que as transformações ainda não terminaram, e que muita coisa nova e significativa vai ocorrer. Por um lado, porque muitas daquelas transformações ainda estão em curso e, portanto, não se consolidaram, por outro lado, porque a situação de crise social , económica e cultural vivida na sociedade, e o interesse crescente pela prática desportiva, vão, certamente influenciar o que se irá passar.
Futuro incerto
A evolução actual da sociedade, gerando uma crise sem precedentes, acelerou o processo de desigualdade, a exclusão social, a «nova pobreza» e a «grande pobreza», e agravou outros, como os da delinquência, droga e outras violências sociais. Tudo isto num momento em que as relações do trabalho com o tempo livre se tornam cada vez menos hegemónicas, em que o número de indivíduos inseridos no mundo da produção diminui, a situação no trabalho se torna cada vez mais precária, aumentando o desemprego, e se produzem profundas mutações no mundo rural .
Nesta situação como irá evoluir o associativismo? A crise acentuar-se-á ou, pelo contrário a sua função passará a ser reconhecida plenamente? O pequeno clube de bairro e de aldeia está inevitavelmente condenado a desaparecer, fazendo por isso, desaparecer um dos últimos locais de convivialidade, de expressão da cultura local e da solidariedade ?
Que se irá passar como «carola», o elemento voluntário sobre o qual ainda hoje repousa o nosso desporto organizado: irá ser substituído pelo profissional, tal como sucedeu no campo da prática com a invasão do profissionalismo, ou receberá os meios indispensáveis para poder continuar a desempenhar a sua acção?
A própria estrutura federada vai continuar a manter-se alheada do grande número de «não organizados», preocupada essencialmente com a prática hiper competitiva de uma pequena percentagem, ou vai sofrer profundas transformações? E estas caminharão no sentido da profissionalização dos meios humanos, na utilização das modernas técnicas de «venda» dos seus «produtos»?
A lógica do mercado, a que ainda escapa uma vasta área da prática desportiva, vai dominar tudo, ou será possível estabelecer limites ajustados entre as actividades espectaculares, e o desenvolvimento das actividades ao serviço da população? Encontrará a iniciativa popular, hoje na origem e na manutenção da vida de cerca de 90% dos clubes existentes, meios e forças suficientes para continuar a desempenhar essa função?
A lista de hipóteses alternativas continuaria ainda por muito mais espaço. Mas as enunciadas já chegam para se compreender a nova realidade que o desporto está a assumir.